sábado, 11 de setembro de 2010

sapo fofo de sapato


Essa sua freqüência acelerada me assusta um pouco, ou melhor, me inibe. Ora menino,basta chegar como quem não quer nada. Como quem gosta de uma bossa, ou um romance de Assis. Não me venha com a pressa do mundo porque desse jeito minha vitrola não aquece. Acostumei e não desacostumo por nada com minha mania de serenata, com as frases colocadas propositalmente no meu bolso. Não quero que você seja tolo, apenas sutilmente acolhedor, para não dizer romântico. Intencione sem falar as palavras proibidas. Ou você não sabe que elas existem? Não sou flor de um lindo jardim, nem flor que se cheire,mas pera lá quero que você me cheire, mas também me colha. Como alguém que está colhendo flores no inverno,ou frutas no pomar,certamente tem em mãos as melhores. Não abro mão desse papo cabeça que eu sei que você tem,apesar de ter preguiça de falar. Economiza nas palavras e só quer saber de agarrar,amassar.Eu gosto,ah se gosto!mas dessa forma seria difícil vitória se fosse obrigado a cortejar. E eu que muito aprecio arrepio no pescoço gosto também de moço que beija a mão. Isso é um pouco cafona,mas me agrada o trabalho que eles tem de levar nossas mãos até a boca. Outro dia um menino desses que adicionam a gente pelo MSN não sei de onde, abriu minha janela me perguntando quem eu era. Quem eu sou? Certamente mais um flerte d um sábado a noite que ele caçou nem ele sabe como.Me achou parecida com a Camila Pitanga.Acredito que na hora ele estava na cabeça com aquela personagem que Camila interpretou que andava com a saia curta pelo calçadão de Copacabana. Não que eu pareça com a Bebel,mas ele deve ter gostado de associar. O menino misterioso disse como se fosse usual ;”você é um tiro”. Eu assustada com essa onda de violência por aí indaguei o que aquilo significava, e ele como quem adora explicar seu jargão disse ;”Você é um tiro no coração do amigo aqui”. Francamente! eu preferiria ter ouvido que sou interessante;mas gostei de ter ouvido a frase, afinal me rendeu boas risadas.
Dia desses estava no ônibus parado no sinal e vejo atravessando a rua um homem alto,bonito de sorriso alegre e com buquê de rosas vermelhas nas mãos. Quase gritei da janela; “aonde você vai com essas rosas que você não me acha?” Não digo nem pelas rosas, afinal prefiro as sementes. Mas só a disposição que teve de carregar aquelas rosas passeando com elas no centro da cidade e com aquele sorriso matinal tão florido me valeria muito. Esse certamente sabe iludir aquelas que acreditam que as flores são a maior prova de amor. Assim como eu acredito no meu sapo fofo de sapato.

Ontem eu tirei férias de 5 minutos, coloquei o computador no stand-by no meio de inúmeras tarefas . Fui livremente até a cozinha saborear aquele café amargo de todos os dias.Joguei na pia esboçando contentamento e no lugar do café tomei um saboroso suco de laranja de caixinha. Foi assim que pensei na vida,olhando da janela o mundo.Procurando casinhas abaixo do Cristo redentor.Imaginando um caminho secreto que me leve de forma mais rápida a ele. Percebi que os carros correm demais, e as ruas nem se dão conta dos passeios serenos que faço por elas. Os postes de mãos dadas parecem os únicos que admiram a vista da praia. No ultimo andar do edifício eu tomo meu suco de caixinha imaginando como seria bom se as férias de 5 minutos fossem obrigação e sucos de caixinhas fossem ainda mais saborosos como aqueles que a gente toma em casa na hora do almoço.

sábado, 8 de maio de 2010

uma manhã

Maio é um ótimo mês para voltar ao blog, para recomeçar a escrever,
pra falar a verdade também gosto de junho. Mas o que eu gosto mesmo é de prestar atenção nas manhãs de cada dia. Cadia dia tem seu revelar essencial, o revelador se entrega as minhas vistas, uma lente de aumento.
A atenção prestada aos minunciosos detalhes,esses cordialmente enriquecedores. Assim caminho ao desembarcar do metro, sigo um pouco adiante carregando uma mochila pesada e florida, como quem carrega flores nas costas, assim vou eu... nas mãos uma lente de aumento que a vista possui. Uma senhora tão bonita e aparentemente em seus 80 anos cruza o caminho que de praxe se faria monótono, a ida ao trabalho. Em minha direção ninguém mais bela, ninguém mais disposta e feliz como ela. Eu a encaro com um olhar de aprendiz, observo cada gesto e expressão que se deixa mostar sem receios. No momento em que passo ao seu lado escuto um desabafo solitário de quem costuma falar ao vento ; - então ele me beijou...
No mesmo instante olho para trás, ameaço voltar e me oferecer para compartilhar de sua revelação.Uma vontade quase inquietante de ouvir aquela estória, ou até mesmo de confidenciar de suas ilusões.Mas o atraso das horas me fez seguir, no pensamento uma vontade de sentar num bar e tomar um chá com aquela senhora tão interessante. Certamente ela teria mais aventuras para contar do que eu tenho tido ultimamente. Mas certo ainda seria o modo inusitado que ela falaria de suas experiencias; porque é certo que ela teria muito o que contar; é possível notar quando uma pessoa tem mais estórias do que um romance de bolso, e ela tem, eu sei..

segunda-feira, 15 de março de 2010


Hoje é madrugada, crianças dormem nas calçadas sem saber por que. Pessoas bebem nos bares sem saber por que. E sem saber por que escrevo, apenas escrevo. Não há lugares, e desertos são tão aconchegante às vezes. O que se cala é tão revelador, é como subir na pirâmide do Egito e silenciosamente gritar o irrevelável. Olhar para baixo e perceber que quando o vento não leva o que a mente guarda, os pensamentos se tornam desagradáveis companhias.
No deserto eu ouvia atenta os conselhos do meu coração. Tão frágeis, amargos de si mesmo, tão insuficientemente fortes. Espelho quebrado é como um coração que se esqueceu de amar sem medo.Espelho é areia do deserto quando olhamos tão carinhosamente seu formato de grão. Tão mínimo, tão grandiosamente minúsculo como o saber das coisas, como o calar de fogos de artifícios.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Aviso da Lua Que Menstrua


Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!


Elisa Lucinda

quarta-feira, 3 de março de 2010

presentes


Acordei com presentes no jardim. vim aqui tão felizmente contar. Percebi que chovia, grama molhada, presente flutuando... Me dei conta de que não tenho um jardim, são folhas verdes apenas, plantadas em um balde qualquer. presentes bateram asas, são borboletas. Engraçado como não tinha antes percebido que esses presentes que voaram de tão longe são conhecidos...
sonhos meus, que não envelhecem.

Daiane Machado

sábado, 27 de fevereiro de 2010

ser livre basta



viagem tem gosto de liberdade
no cheiro de verso as palavras tem sentidos
sentidos...
tão longe de casa tudo parece plural
universos múltiplos que possuem cheiro

liberdade !
quero asas de pássaros de presente!
ir tão longe só pra poder voltar.
a Bahia me deixou com gostinho de quero mais.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010


sentei, admirei
desceu, pousou
sorri, acenei
partiu, senti
pensei, pensei...
envelheci, despertei
ainda estou sentada na rampa
que dá pra praia,
onde pousam asa -deltas
abelhas no céu,
mel que as guiam
tão alegres braços que voam altos,
libertos...
eu só vejo
só penso
acompanho pensamento que voa
envelhecida por pensar nos dias futuros
buscando imagens,
imaginando roteiros que ainda não são meus
cansando o presente
atordoando a arte de viver
pulando o tempo da gestação.
um tempo que está por vir,
feito abelhas que pousam
guiadas por mel